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Mochila Vermelha

Qui | 08.03.18

M

M de Menina, M de Mulher.

 

M de Multiplicidade de papéis. Multiplicidade, confusão e obrigação.

 

A geografia pesa muito na determinação da condição de Mulher. Nascer Mulher numa sociedade ocidental é muito diferente de nascer Mulher em países em desenvolvimento, em particular naqueles em que as Mulheres são mais desprovidas de direitos devido a fanatismos religiosos e outros aspetos culturais.

 

Ainda que me possa considerar uma Mulher com sorte por ter nascido num país em que as mulheres já conquistaram o direito a estudar, a votar, a trabalhar, a ter propriedade, a ter voz, etc., ainda assim há margem e terreno para melhorar.

 

A herança  e o peso dos dois cromossomas X é dada quando ainda estamos no útero das nossas mães e começa com a panóplia de coisas cor-de-rosa, os brinquedos (as lojas de brinquedos fazem-me aflição, pois, são 100% estereotipadas), a "princesa" que vem a caminho! Não queremos ser princesas, queremos apenas SER. Ser pessoas. Queremos brincar com legos, com carros telecomandados, jogar futebol, queremos aprender a trabalhar madeira, a pintar paredes, a mudar pneus, quem sabe brincar também com bonecas, ..... Queremos e podemos ser autosuficientes. Não queremos que nos digam, isso não pode ser, não é para mulheres!!! Não queremos que chamem "menina" aos rapazes como sendo algo pejorativo! Ser menina não é um sinónimo de fraqueza. Então porque tantas pessoas usam a expressão "não sejas uma menina", muitas vezes endereçada a rapazes ou homens, como se de uma ofensa se tratasse?

 

Meninas e Mulheres de Portugal, também está nas nossas mãos. Somos nós que vamos educar as próximas gerações de Mulheres e Homens. Temos que dizer às Meninas que podem ser e fazer aquilo que sentem que devem fazer, não as vamos limitar porque são Mulheres. Temos que dizer aos Meninos que as Meninas têm os mesmos direitos que eles, que merecem respeito, também eles têm que aprender a ser autosuficientes e a saber administrar as tarefas em casa, a conciliar a vida familiar com o trabalho, a cuidar dos filhos, etc....

 

Meninos e Homens de Portugal, também está nas vossas mãos educar as próximas gerações de Mulheres e Homens. Eduquem as vossas filhas e façam com elas o que fariam com um filho do sexo masculino. As vossas filhas também gostam de jogar à bola, brincar com legos, trocar lâmpadas, etc. Não faça por ela, explique como fazer. Eduquem os vossos filhos a respeitar as Meninas e as Mulheres.

 

Este desabafo vem a propósito do dia internacional da Mulher. Também eu Mochileira, sonho com direitos iguais, pois, somos todos humanos! E aí desse lado, conhecem as heroínas portuguesas? Aquelas Mulheres com M muito grande? Felizmente temos muitos exemplos. Vou deixar aqui algumas para nos inspirarmos e nunca perdermos a esperança!

 

- ANTÓNIA RODRIGUES (1580-?): fugiu de casa, comprou um fato de marujo, cortou o cabelo, chegou a grumete, tornou-se soldado e ficou conhecida como "Terror dos Mouros". Quando revelou que era mulher, foi apelidada de "Cavaleira Portuguesa" tendo-lhe sido atribuída uma tença pela sua bravura.

 

- JOSEFA D'ÓBIDOS (1630-1684): tornou-se artista como seu pai, apesar de se esperar que fosse para freira. As suas obras são hoje muito conhecidas e famosas.

 

- JULIANA DIAS DA COSTA (1657-1734): foi superiora e clínica do serralho imperial, desempenhou o papel de procuradora do reino português e serviu de intermediária a holandeses, franceses e italianos, pois falava muitas línguas. Nasceu em Bengala, na Índia.

 

- ANTÓNIA FERREIRA (1811-1897): ficou viúva aos 30 anos, com 2 filhos e uma considerável fortuna. Sozinha, negociou, controlou, investiu, ajudou necessitados e morreu octogenária, bastante mais rica do que nasceu. Aquando da sua morte as suas quintas produziam 1500 pipas de vinho por ano. Deixou uma fortuna avaliada em 5.907.323$000 réis, que incluíam 30 quintas, armazéns e palácios bem recheados, coleções de arte, joias, títulos, créditos e dinheiro.

 

- CAROLINA MICHAËLIS (1851-1925): foi crítica literária e foi também a primeira mulher a lecionar numa universidade portuguesa, mais concretamente a Universidade de Coimbra. Nasceu em Berlim e tornou-se portuguesa por casamento e dedicação.

 

- ADELAIDE CABETE (1867-1935): licenciou-se em medicina aos 33 anos, já depois de casada e de ter filhos. A sua tese de licenciatura foi: "A proteção às mulheres grávidas pobres como meio de promover o desenvolvimento físico de novas gerações". Propôs a criação de maternidades, creches, asilos para a infância, instituições de solidariedade social, lutou por uma sociedade mais justa e equitativa.

 

- CAROLINA BEATRIZ ÂNGELO (1878 - 1911): foi a primeira mulher a votar em Portugal. O facto de ser viúva e ter de sustentar os seus filhos, permitiu-lhe invocar em tribunal o direito de ser considerada "chefe de família", podendo assim aproveitar uma lacuna na lei, tendo votado nas eleições constituintes, a 28 de Maio de 1911. Excusado será dizer que a lei logo foi alterada para dizer especificamente chefes de família do "sexo masculino"!

 

E a lista continua com grandes nomes como Florbela Espanca, Amália Rodrigues, Maria de Lurdes Pintassilgo (a primeira mulher a desempenhar o cargo de Primeiro-Ministro em Portugal),.......

 

Temos muito que nos orgulhar em termos de percurso. Se elas conseguiram fazer isto tudo em tempos em que as mulheres não tinham voz nem oportunidades, imaginem o que nós iremos conseguir ao longo dos próximos anos!!!

 

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